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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/237

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eu guardo-as! - E, com uma contração de rancor, que lhe curvou os dedos em garra, e lhe encolheu o peito magro, disse por entre os dentes cerrados: - Eu, quando odeio, odeio bem!

Esteve um momento calado, gozando o sabor do seu fel.

— Você se for à Rua da Misericórdia dê lá os parabéns a essa gente... - E acrescentou com os olhinhos em Amaro: - O palerma do escrevente leva a rapariga mais bonita da cidade! Vai encher o papo!

— Até à vista! exclamou bruscamente Amaro, abalando pela rua furioso.

Depois daquele terrível domingo em que aparecera o Comunicado, o padre Amaro, ao principio, muito egoistamente, apenas se preocupara com as consequências - "consequências fatais, Santo Deus!" - que lhe podia trazer o escândalo. Hem! se pela cidade se espalhasse que era ele o padre ajanotado que o liberal apostrofava! Viveu dois dias aterrado, tremendo de ver aparecer o padre Saldanha, com a sua cara ameninada e voz melíflua, a dizer-lhe "que sua excelência o senhor chantre reclamava a sua presença"! Passava já o tempo preparando explicações, respostas hábeis, lisonjas a sua excelência. - Mas quando viu que, apesar da violência do artigo, sua excelência parecia disposto "a fazer a vista grossa", ocupou-se então, mais tranquilo, dos interesses do seu amor tão violentamente perturbados. O medo tornava-o astucioso; e decidiu não voltar algum tempo à Rua da Misericórdia.

— Deixar passar o aguaceiro, pensou.

Ao fim de quinze dias, três semanas, quando o artigo estivesse esquecido, apareceria de novo em