Misericórdia número nove!" Amaro sentia-se perdido; um vasto éter cor de leite, penetrável e macio como uma penugem de ave, envolvia-o; e ele procurava debalde uma tabuleta de hospedaria! Por vezes resvalava junto dele um globo reluzente de onde saía o rumor duma criação; ou um esquadrão de arcanjos, com couraças de diamantes, erguendo alto espadas de fogo, galopavam num ritmo nobre...
Amélia tinha fome, tinha frio. "Paciência, paciência, meu amor!" dizia-lhe ele. Caminhando, vieram a encontrar uma figura branca, que tinha na mão uma palma verde. "Onde está Deus, nosso pai?" perguntou-lhe Amaro, com Amélia conchegada ao peito. A figura disse: - "Eu fui um confessor, e sou um santo: os séculos passam, e imutavelmente, sempiternamente sustento na mão esta palma e banha-me um êxtase igual! Nenhuma tinta modifica esta luz para sempre branca; nenhuma sensação sacode o meu ser para sempre imaculado; e imobilizado na bem-aventurança, sinto a monotonia do Céu pesar-me como uma capa de bronze. Oh! pudesse eu caminhar a passos largos nas torpezas diferentes da Terra - ou bracejar, sob as variedades da dor, nas chamas do purgatório!"
Amaro murmurou: "Bem fazemos nós em pecar!" - Mas Amélia desfalecia fatigada... "Durmamos, meu amor!" E, deitados, viam estrelas flutuando numa poeirada como o joio sacudido vivamente do crivo. Então nuvens começaram a dispor-se em torno deles, em pregas de cortinados, dando um perfume de sachets: Amaro pousou a sua mão sobre o peito de Amélia: um enleio muito