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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/282

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vezes com os maus; é como quando um grande fidalgo tem de estar lado a lado com um trabalhador de enxada... É como se disséssemos: "Eu sou-te superior em virtude, mas comparado com o que devia ser para entrar na glória, quem sabe se não sou tão pecador como tu!..." E esta humilhação da alma é a melhor oferta que podemos fazer a Jesus.

D. Josefa escutava-o, babosa; e numa admiração:

— Ai, senhor pároco, que até dá virtude ouvi-lo!

Amaro curvou-se:

— Deus às vezes, na sua bondade, inspira-me justas palavras... Pois, minha senhora, eu não quero maçar mais. Ficamos entendidos. A senhora fala à pequena amanhã; e se, como é de crer, ela consentir em escutar os meus conselhos, traz-ma à Sé, no sábado, às oito horas. E fale-lhe teso, D. Josefa!

— Deixe-a comigo, senhor pároco!... Então não quer provar da minha marmelada?

— Provarei, disse Amaro, tomando um ladrilho em que cravou os dentes com dignidade.

— É dos marmelos da D. Maria. Saiu-me melhor que a das Gansosinhos...

— Pois adeus, D. Josefa... Ah, é verdade, que diz o nosso cônego deste caso do escrevente?

— O mano?...

Neste momento a campainha embaixo repicou com furor.

— Há-de ser ele, disse logo D. Josefa. E vem zangado!

Vinha, com efeito, da fazenda - furioso com o caseiro, o regedor, o governo e a perversidade dos