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Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/307

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ao colo e o homem do braço ao peito, esperando numa saleta baixa com bancos, dois manjericões na janela e uma grande gravura da Coroação da Rainha Vitória. Apesar do sol claro que entrava no pátio, e de uma fresca folhagem de tília que roçava o peitoril da janela, a saleta dava tristeza, como se as paredes, os bancos, os mesmos manjericões estivessem saturados da melancolia das doenças que ali tinham passado. João Eduardo entrou e sentou-se a um canto.

Tinha batido meio-dia, e a mulher estava-se queixando de ter esperado tanto: era de uma freguesia distante; deixara no mercado a irmã, e havia uma hora que o senhor doutor estava com duas senhoras! A cada momento a criança rabujava, ela sacudia-a nos braços: calavam-se depois: o velho arregaçava a calça, contemplava com satisfação uma chaga na canela envolta em trapos: e o outro homem dava bocejos desconsolados que tomavam mais lúgubre a sua longa face amarela. Aquela demora enervava, amolecia o escrevente; sentia perder gradualmente o ânimo de ocupar o doutor Gouveia; preparava laboriosamente a sua história, mas ela parecia-lhe agora bem insuficiente para o interessar. Vinha-lhe então um desalento, que as faces insípidas dos doentes tomavam ainda mais intenso. Positivamente era uma coisa bem triste esta vida, cheia só de misérias, de sentimentos traídos, de aflições, de doenças! Erguia-se; e com as mãos atrás das costas ia olhar desconsoladamente a Coroação da Rainha Vitória.

De vez em quando a mulher entreabria a porta, a espreitar se as duas senhoras ainda lá estariam.