Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/319

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desanimar... Decidiu-se logo - contente, depois das emoções e das fadigas da manhã, de se estirar no banco da taberna, diante dum prato cheio, na intimidade com um camarada de ódios iguais aos seus. Demais, os repelões que sofrera davam-lhe uma necessidade, uma avidez de simpatia; e foi com calor que disse:

— Homem, valeu! Cais-me do céu! Este mundo é uma choldra. Se não fosse por alguma hora que se passa em amizade, caramba, não valia a pena andar por cá! .

Este modo, tão novo no João Eduardo, no Pacatinho, espantou Gustavo.

— Por quê? As coisas não correm bem? Turras com a besta do Nunes, hem? perguntou-lhe.

— Não, um bocado de spleen.

— Isso de spleen é de inglês! Oh menino, havias de ver o Taborda no Amor londrino!... Deixa lá o spleen. É deitar lastro para dentro e carregar no líquido!

Travou-lhe do braço, meteu-o pela porta da taberna.

— Viva o tio Osório! Saúde e fraternidade!

O dono da casa de pasto, o tio Osório, personagem obeso e contente da vida, com as mangas da camisa arregaçadas até aos ombros, os braços nus muito brancos apoiados sobre o balcão, a face balofa e finória, felicitou logo Gustavo de o ver de novo em Leiria. Achava-o mais magrito... Havia de ser das más águas de Lisboa e do muito paucampeche nos vinhos... E que havia dele servir aos cavalheiros?

Gustavo, plantando-se diante do contador, de