Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/415

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Amélia baixava os olhos, modesta. E o Carlos, que estava também no segredo, deixava o balcão para vir à porta admirar Amélia.

— Vem da sua grande missão de caridade, hem? dizia, de olho arregalado, balanceando-se na ponta das chinelas.

— Estive um bocado com a pequena, a entretê-la...

— Grandioso! murmurava o Carlos. Um apostolado! Pois vá, minha santa menina, recados à mamã.

Voltava-se então para dentro, para o praticante:

— Veja o Sr. Augusto aquilo... Em lugar de passar o seu tempo, como as outras, em namoros, faz-se anjo da guarda! Passa a flor dos anos com uma entrevada! Veja o senhor se a filosofia, o materialismo, e essas porcarias são capazes de inspirar ações deste jaez... Só a religião, meu caro senhor! Eu queria que os Renans e essa cambada de filósofos vissem isto! Que eu, tenha o senhor em vista, admiro a filosofia, mas quando ela, por assim dizer, vai de mãos dadas com a religião... Sou homem de ciência e admiro um Newton, um Guizot... Mas (e grave o senhor estas palavras) se a filosofia se afasta da religião... (grave bem estas palavras) dentro de dez anos, Sr. Augusto, está a filosofia enterrada!

E continuava a mexer-se pela farmácia a passos lentos, de mãos atrás das costas, ruminando o fim da filosofia.