Saltar para o conteúdo

Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/444

Wikisource, a biblioteca livre

— E olha, Totozinha, já os viste beijarem-se, abraçarem-se? Anda, diz, que te dou dois pintos.

Ela não descerrava os lábios; e a sua face transtornada parecia ao cônego selvagem.

— Tu embirras com ela, não é verdade?

Ela fez que sim numa afirmação feroz de cabeça.

— E viste-os beliscarem-se?

— São como cães! soltou ela por entre os dentes.

O cônego então endireitou-se; bufou outra vez com o seu grande sopro de encalmado, e coçou vivamente a coroa.

— Bem, disse, erguendo-se. Adeus, pequena... Agasalha-te. Não te constipes...

Saiu; e ao fechar com força a porta exclamou alto:

— Isto é a infâmia das infâmias! Eu mato-o! eu perco-me!

Esteve um momento considerando, e partiu para a Rua das Sousas, de guarda-sol em riste, apressando a sua obesidade, com a face apoplética de furor. No Largo da Sé, porém, parou a refletir ainda; e rodando sobre os tacões, entrou na igreja. Ia tão levado que, esquecendo um hábito de quarenta anos, não dobrou o joelho ao Santíssimo. E arremessou-se para a sacristia - justamente quando o padre Amaro saía, calçando cuidadosamente as luvas pretas que usava agora sempre para agradar à Ameliazinha.

O aspecto descomposto do cônego assombrou-o.

— Que é isso, padre-mestre?

— O que é, exclamou o cônego de golpe,