— Então até à noite em casa da S. Joaneira, padre-mestre, hem?
— Até à noite.
E o cônego, muito grave, continuou a escrever. D. Josefa então não se conteve; e depois de arrastar um momento as chinelas em tomo do banco do mano:
— Há novidade?
— Grande novidade, mana! disse-lhe o cônego, sacudindo os bicos da pena. Morreu o senhor D. João VI!
— Malcriado! rugiu ela rodando sobre os sapatões, cruelmente perseguida por uma risadinha do mano.
Foi à noite, embaixo, na saleta da S. Joaneira, enquanto Amélia em cima, com a morte na alma, martelava a Valsa dos Dois Mundos, que os dois padres, muito chegados no canapé, de cigarro nos dentes, por debaixo do tenebroso painel onde a vaga mão do cenobita se estendia em garra sobre a caveira, cochicharam o seu plano: - antes de tudo era necessário achar João Eduardo, que desaparecera de Leiria; a Dionísia, mulher de faro, ia bater todos os recantos da cidade para descobrir a toca em que a fera se acoutava; depois, imediatamente, porque o tempo urgia, Amélia escrever-lhe-ia... Só quatro palavras simples: que soubera que ele fora vítima duma intriga; que nunca perdera nada da amizade que lhe tinha; que lhe devia uma reparação; e que viesse vê-la... Se o rapaz hesitasse agora, o que não era provável (o cônego afirmava-o), fazia-se-lhe reluzir a esperança do emprego no governo civil, fácil de obter pelo Godinho, inteiramente