Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/484

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— Ai doutor, exclamou D. Maria, as nossas orações não lhe hão-de faltar...

— E eu não lhe hei-de faltar com os tônicos, disse o doutor. De modo que, o que resta é congratularmo-nos.

Aquela jovialidade do doutor era para todos como a certeza da saúde próxima.

E dai a dias, o cônego, vendo aproximar-se o fim de agosto, falou de alugar casa na Vieira, como costumava um ano sim outro não, para ir tomar os seus banhos de mar. O ano passado não fora. Este era o ano de praia...

— E a mana lá, naqueles ares saudáveis da beira-mar, é que acaba de ganhar forças e carnes...

Mas o doutor Gouveia desaprovou a jornada. O ar muito picante e muito rico do mar não convinha à fraqueza de D. Josefa. Era preferível irem para a quinta da Ricoça, nos Poiais, lugar abrigado e muito temperado.

Foi um desgosto para o pobre cônego, que prodigalizou as lamúrias. O quê! ir enterrar-se todo o Verão, o melhor tempo do ano, na Ricoça! E os seus banhos, meu Deus, os seus banhos?

— Veja o senhor, - dizia ele a Amaro, uma noite no escritório, - veja o que eu tenho sofrido... Durante a doença, que desarranjo, que desordem na casa! Chá fora de horas, jantar esturrado! E os cuidados que tive, que me emagreceram... E agora, quando eu pensava poder ir refazer- me para a praia, não senhor, vai para a Ricoça, dispensa os teus banhos... Isto é o que eu chamo sofrer! E no fim de tudo não fui eu que estive doente. Mas sou eu que as aguento... Perder dois anos a fio os meus banhos!