Saltar para o conteúdo

Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/488

Wikisource, a biblioteca livre

olhos de carneiro triste, acusado de perder virgens!... Não, essa era boa!

— Não pega, pároco amigo, não pega! Outra, outra...

Mas então subitamente partiu dos lábios de ambos o mesmo nome - o Femandes, o Femandes da loja de panos! Belo homem, que Amélia admirava muito! Sempre que saía ia-lhe à loja: tinha mesmo havido indignação na Rua da Misericórdia, havia dois anos, com a ousadia do Femandes que acompanhara Amélia pela estrada de Marrazes até ao Morenal!

Já se sabe, não se dizia explicitamente à mana, - mas dava-se-lhe a entender que fora o Femandes.

E Amaro subiu rapidamente para o quarto da velha, que era por cima do escritório. Esteve lá meia hora, uma longa, uma pesada meia hora para o cônego, que apenas podia ouvir em cima, ora rangeres das solas de Amaro, ora tosse cavernosa da velha... E no seu passeio habitual pelo escritório, da estante para a janela, com as mãos atrás das costas e a caixa do rapé nos dedos, ia considerando quantos incômodos, quantas despesas lhe traria ainda aquele "divertimento do senhor pároco"! Tinha de ter a rapariga na quinta cinco ou seis meses... Depois o médico, a parteira que era ele naturalmente que havia de pagar... Depois algum enxoval para o pequeno... E que se lhe havia de fazer, ao pequeno?... Na cidade, a Roda fora suprimida; em Ourém, como os recursos da Misericórdia eram escassos e a afluência dos enjeitados escandalosa, tinham posto um homem ao pé da sineta da Roda, para interrogar e