passava o serão no quarto, costurando; e a todo o momento alusões suspiradas ao triste encargo que Deus lhe mandava no fim dos seus dias...
Amélia, consigo, acusava o pároco: ele prometera-lhe que a madrinha seria toda caridade, toda cumplicidade; e entregava-a por fim a uma semelhante ferocidade de velha virgem devota!...
Quando se viu naquele casarão da Ricoça, num quarto regelado, pintado a cor de canário, lugubremente mobiliado, com uma cama de dossel e duas cadeiras de couro, chorou toda a noite com a cabeça enterrada no travesseiro - torturada por um cão que debaixo das janelas, estranhando sem dúvida as luzes e o movimento na casa, uivou até de madrugada.
Ao outro dia desceu à quinta a ver os caseiros. Era talvez boa gente com quem podia distrair-se. Encontrou uma mulher, alta e lúgubre como um cipreste, carregada de luto: um grande lenço negro tingido, muito puxado para a testa, dava-lhe um ar de farricoco; e a sua voz gemebunda tinha uma tristeza de dobre a finados. O homem pareceu-lhe ainda pior, semelhante a um orangotango, com duas orelhas enormes muito despegadas do crânio, uma saliência bestial do queixo, as gengivas deslavadas, um corpo desengonçado de tísico, de peito metido para dentro. Abalou bem depressa, foi ver o pomar: andava maltratado; as ruazitas estavam invadidas por um ervaçal úmido; e a sombra das árvores muito juntas, num terreno baixo, cercado de altos muros, dava uma sensação doentia.
Era ainda preferível passar os seus dias metida no casarão; dias infindáveis em que as horas se iam