que ficara de pé, ao lado do canapé, gozando a presença do senhor pároco. - Deixe falar... É que a senhora exagera também... Levanta-se todos os dias, dá o seu passeinho até à sala, come a sua asita de frango... Temo-la aqui, temo-la arribada... É o que diz o Sr. abade Ferrão, a saúde foge a toda a brida e para voltar vem a passo.
A porta abriu-se. Amélia apareceu, muito escarlate, com o seu antigo robe-de-chambre de merino roxo, o cabelo arranjado à pressa.
— Desculpe, senhor pároco, balbuciou, mas hoje tem sido um dia de balbúrdia...
Ele apertou-lhe a mão gravemente; e ficaram calados, como se estivessem separados pela distância dum deserto. Ela não tirava os olhos do chão, enrolando com a mão trêmula uma ponta da manta de lã que trazia solta pelos ombros. Amaro achava-a mudada, um pouco inchada das faces, com uma ruga de velhice aos cantos da boca. Para romper aquele silêncio estranho, perguntou-lhe também se se dava bem...
— Para aqui vou indo... É um pouco triste isto. É como diz o Sr. abade Ferrão, é muito grande para a gente se sentir em família.
— Ninguém veio para aqui para se divertir, disse a velha sem descerrar as pálpebras, com uma voz seca que perdera toda a fadiga.
Amélia baixou a cabeça, fazendo-se pálida.
Amaro então, compreendendo num relance que a velha torturava Amélia, disse com muita severidade:
— É verdade, não foi para se divertirem... Mas também não foi para se entristecerem de