Amaro então recolhia, e no seu quarto, com a janela aberta ao calor da noite, estirado em cima da cama, em mangas de camisa, sem botas, fumava cigarros, ruminava as suas esperanças. A cada momento lhe acudiam, com rebates de alegria, as palavras da senhora condessa: fique descansado, meu marido há-de falar! E via-se já pároco numa bonita vila, numa casa com quintal cheio de couves e de saladas frescas, tranqüilo e importante, recebendo bandejas de doce das devotas ricas.
Vivia então num estado de espirito muito repousado. As exaltações, que no seminário lhe causava a continência, tinham-se acalmado com as satisfações que lhe dera em Feirão uma grossa pastora, que ele gostava de ver ao domingo tocar à missa, dependurada da corda do sino, rolando nas saias de saragoça, e a face a estourar de sangue. Agora, sereno, pagava pontualmente ao Céu as orações que manda o ritual, trazia a carne contente e calada, e procurava estabelecer-se regaladamente.
No fim de quinze dias foi a casa da senhora condessa.
— Não está, disse-lhe um criado da cavalariça.
Ao outro dia voltou, já inquieto. Os batentes verdes estavam abertos; e Amaro subiu devagar, pisando, muito acanhado, o largo tapete vermelho, fixado com varões de metal. Da alta clarabóia caia uma luz suave; ao cimo da escada, no patamar, sentado numa banqueta de marroquim escarlate, um criado encostado à parede branca envernizada, com a cabeça pendente e o beiço caído, dormia. Fazia um grande calor; aquele alto