Página:O Crime do Padre Amaro.djvu/74

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vozinha era quase chorosa. — Olha que amanhã é Santa Bárbara: tem seis Padre-Nossos de direito!



Amaro fora visitar o chantre com o cônego Dias, e tinha-lhe entregado uma carta de recomendação do Sr. conde de Ribamar.

— Conheci muito o Sr, conde de Ribamar, disse o chantre. Em quarenta e seis, no Porto. Somos amigos velhos! Era eu cura de Santo Ildefonso: há que anos isso vai!

E, reclinando-se na velha poltrona de damasco, falou com satisfação do seu tempo; contou anedotas da Junta, apreciou os homens de então, imitou-lhes a voz (era uma especialidade de sua excelência), os tiques, as caturrices, — sobretudo Manuel Passos, que ele descrevia passeando na Praça Nova, com o comprido casaco pardo e o chapéu de grandes abas, dizendo:

Ânimo patriotas! o Xavier aguenta-se!

Os senhores eclesiásticos da câmara riram com gozo. Houve uma grande cordialidade. Amaro saiu muito lisonjeado.

Depois jantou em casa do cônego Dias, e foram passear ambos pela estrada de Marrazes. Uma luz doce e esbatida alargava-se por todo o campo; havia nos outeiros, no azul do ar, um aspecto de repouso, de meiga tranquilidade; fumos esbranquiçados saíam dos casais, e sentiam-se os chocalhos melancólicos dos gados que recolhem. Amaro parou junto da Ponte, e disse, olhando em redor a paisagem suave:

— Pois senhores, parece-me que me hei-de dar bem aqui!