Página:O Garimpeiro do Rio das Garças.pdf/32

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
32

Joli, que não largava nunca a pista dos dois bandidos, olhou para trás e fez uma carinha de riso cavorteiro ao ver seu dono naquela triste situação, com as fraldas da camisa ao vento e as pernas cabeludas de fora.

— Ria-se, maroto — disse João. — Vamos ver quem se ri por último.

Quando o jacaré percebeu que estava com as calças na boca e com o dono delas já lá longe, ficou desapontadíssimo.

Era um jacaré velho, como aquele Jacala que Kipling descreve em seu livro Jacala, o Crocodilo, famoso comedor de gente na Índia. Já havia devorado várias crianças, mulheres e homens, tornando-se por isso um grande apreciador da carne humana.

— Que maçada! — exclamou o jacaré lá consigo. Creio que estou ficando velho, já que deixei escapar este homem. Na minha mocidade nunca me aconteceu perder uma presa.

Depois olhou por uns instantes para as calças do fugitivo.

— Minha mulher botou ontem vários ovos — disse ele consigo — e há de ficar contente se eu lhe levar estas calças para agasalhar os jacarezinhos que vão nascer.

E lá se foi para casa com as calças de João Nariz.

Enquanto o jacaré filosofava, João Nariz e Joli continuavam na corrida louca, sem perderem