Página:O Gaucho (Volume I).djvu/106

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Ergueu Manuel o poldrinho, que a égua segurando pelas clinas tirou fora da gruta e pousou sobre a relva, deitando-se para o conchegar a si.

Em semelhante situação, a mulher mãe embebia a criança de lágrimas e beijos, e a cerrava ao seio para aquecê-lo ao seu contato. A égua mãe lambeu o filho e o cobriu todo de uma baba abundante e vigorosa. No fim de contas a carícia materna é a mesma no coração racional, como no coração animal; uma extravasão d’alma que imerge o filho e uma influição do filho que se embebe n’alma.

A mulher chora, soluça, beija e abraça; a égua lambe, e nesse único movimento há a lágrima, o soluço, o ósculo e o amplexo: o amplexo da língua, que é o abraço inteligente do animal.

Enquanto assim procurava a baia reanimar o poldrinho, estavam contemplando-a, mudos e igualmente comovidos, o Manuel de um lado, do outro a tordilha. Esta deitava sobre a amiga uns olhares longos; de vez em quando castigava a travessura de seu poldrinho, arredando-o de si, quando se ele chegava para acariciá-la. Não queria ela, a mãe feliz, dar àquela mãe desventurada o espetáculo de sua alegria.