Página:O Gaucho (Volume I).djvu/188

Wikisource, a biblioteca livre

o encargo que lhe deixara o pai de prover à decente subsistência da família, o rapaz lembrou-se da bolsa, e abrindo-a para medir a capacidade, murmurou consigo:

— Cheia de onças e patacões, juntamente com a casa, chegaria bem para minha mãe viver sossegada o resto de seus dias, e dar um dotezinho a Jacinta. Então poderei dispor de mim; se morrer, não farei falta a ninguém!...

Depois de ficar um instante pensativo, concluiu:

— É preciso que eu encha a bolsa.

Desde então a escarcela, fechada dentro de uma mala, recebeu todo o dinheiro que o rapaz ganhou com seu trabalho. Tinham decorrido quase doze anos depois da morte de João Canho, quando o gaúcho conseguiu enchê-la.

Nesse dia Manuel foi rezar junto à cruz de pau, e repetir o juramento que tinha feito, de vingar a morte do pai. Nada mais o detinha; assegurara o futuro da família; agora podia dispor livremente de sua existência.

À noite, ao recolher-se, Manuel disse a Francisca:

— Esta madrugada saio para Entre-Rios.