Página:O Gaucho (Volume I).djvu/220

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dia de uma travessura e gentileza sem igual. Ora gambeteava como um cabrito pela rua afora, subindo ao respaldo das casas; ora começava a fazer afagos e negaças à mãe, pronta sempre a brincar com ele.

Vendo a menina debruçada no parapeito e desejoso de chegar-se, Félix ofereceu a viola a quem desejasse.

— Então, gente, não há quem queira?

Ao que parecia, já estavam todos satisfeitos da brincadeira, pois nenhum dos peões tomou o instrumento, pouco havia tão disputado.

— Já que ninguém quer!... disse o Canho estendendo a mão.

Depois de afinar a viola, e acertar um acompanhamento simples e fácil, porém vivo como o trinado do sabiá, o Canho, encostando-se na ombreira da porta e erguendo os olhos ao céu, como quem procurava ali no azul diáfano o raio da inspiração, começou a descantar.

Sua voz era cheia e sonora. Apesar de um tanto áspera, não deixava de haver doçura nas notas vibrantes que se desprendiam de seus lábios; mas era a harmonia agreste dos lufos do