Página:O Gaucho (Volume I).djvu/78

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porém sim a dedicação que ele tinha à raça hípica.

Havia entre o gaúcho e os cavalos verdadeiras relações sociais. Alguns faziam parte de sua família; outros eram seus amigos; aos mais tratava-os como camaradas ou simples conhecidos.

Com os irmãos e amigos vivia em perfeita intimidade; consentia que lhe roçassem a cabeça pelo ombro, ou lambessem-lhe a face. Muitas vezes comiam em sua mão; andavam constantemente soltos; não havia cabresto nem soga para eles; era corcéis livres.

Tinham esses membros da família suas vontades, que o chefe respeitava por uma justa reciprocidade. Se acontecia agastar-se algum, e a consciência de Manuel o acusava, era ele quem primeiro cedia; e assim faziam-se as pazes.

Aos camaradas não consentia o gaúcho aquelas familiaridades; ao contrário, os tratava com certa reserva. Saudavam-se pela manhã ao despontar do dia; e à noite, na ocasião de recolher. Comumente se encontravam na hora da ração: comiam juntos, os brutos no embornal, o homem na palangana.

Na opinião de Manuel o cavalo e o homem contraíam