Página:O Gaucho (Volume I).djvu/82

Wikisource, a biblioteca livre

Em qualquer ponto onde estivesse, precisando de um cavalo, não carecia de o apanhar a laço: bastava-lhe um sinal e logo aparecia o magote alegre a festejá-lo, oferecendo-se para seu serviço. O trabalho era escolher e arredar os outros, pois todos queriam prestar-se, como seus amigos que eram, uns por gratidão, outros por simpatia.

Quando partia, o acompanhavam algumas quadras, curveteando a seu lado, como demonstração de amizade. Afinal paravam para segui-lo com a vista, até que sumia-se por detrás das coxilhas.

Estâncias havia em que anunciava-se a chegada de Manuel pelo relincho estridente, que é o riso viril e sonoro do cavalo. Era o gaúcho recebido e afagado na tronqueira pelos camaradas saudosos, que vinham apresentar-lhe o focinho, rifando com ciúmes uns dos outros.

Se acontece passarmos à vista da casa de algum amigo, lhe dirigimos um olhar, dando-lhe mesmo de longe os bons-dias. Assim, contavam que os cavalos amigos de Manuel, quando subiam o teso que ficava fronteiro à sua casa, rinchavam de prazer, abanando a cauda com alegria.