— Matando-a, para que a mesma cova receba nossos dois corpos; não sei por quê, mas parece-me que ainda cadáver, o contato dessa mulher deve ser para mim um gozo imenso.
— Loredano!... exclamou seu companheiro horrorizado.
— Sois meu amigo e sereis meu herdeiro! disse o italiano agarrando-lhe convulsivamente no braço. É a minha condição; se recusais, outro aceitará o tesouro que rejeitais!
O aventureiro estava em lata com dois sentimentos opostos; mas a ambição violenta, cega, esvairada, abafou o grito fraco da consciência.
— Jurais? perguntou Loredano.
— Juro!... respondeu Rui com a voz estrangulada.
— Avante então!
Loredano abriu a porta do seu cubículo, e voltou algum tempo depois trazendo uma tábua longa e estreita que colocou sobre o despenhadeiro como uma espécie de ponte suspensa.
— Ides segurar esta tábua, Rui. Entrego em vossas mãos a minha vida, e nisto dou-vos a maior prova de confiança. Basta que deixeis esta prancha mover-se para que eu me precipite sobre os rochedos.