Página:O Hóspede.djvu/121

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descosida em alguns lugares, deixara-se facilmente fascinar pela superficialidade brilhante e luzidia do Marcondes. Ouvia-o atentamente, gostando muito daquelas histórias novas que ele contava tão bem, envolvendo em meias-tintas e diáfanos de gaze o seu fundo acanalhado. E, quando ele estava ausente, a velha senhora não o esquecia nunca, falava sempre a seu respeito e arvorava-o em árbitro de qualquer questão suscitada.

D. Augusta tinha-o em muito boa conta. Achava-lhe um ar sério de homem prático que sabe encarar devidamente o mundo. Augurava-lhe um esplêndido futuro e chegava mesmo a estabelecer um paralelo entre a sisudez do rapaz e as leviandades inconcebíveis do genro. Ali, antes do jantar, quando ele voltava mais cedo, a boa senhora gostava de fazê-lo sentar-se junto dela. Então os dois começavam a discorrer largamente sobre qualquer assunto que se lhes apresentava, entravam num desnovelar de considerações intermináveis, admirando-se da uniformidade de pensamentos que os animava, E iam por aí afora, cada que dando pasto às suas maledicências, fazendo-se confissões mútuas num grande transbordar de amizades. Ela assumia uns ares protetores e ditatoriais de mãe benévola,