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CAPITULO SEXTO

A parabola do rico avarento
 

Lux in tenebris. Lêde no Evangelho de S. Lucas, capitulo XVI, a parabola do rico avarento. Do fundo do inferno, o rico avarento levanta a voz para seu pae Abrahão: «Compadece-te de mim, e manda cá a Lazaro, para que molhe em agua a ponta do seu dedo, a fim de me refrescar a lingua.» Lazaro não se bole, em quanto o patriarcha lembra ao padecente a pena de talião; cabe agora ao opulento mendigar, e ao pobre fartar-se. O rico avarento baixou os olhos, e não pediu mais agua: resignou-se, não murmurou, não blasphemou, renunciou a gottinha d'agua como renunciára as vestes purpureas e as regalias da meza. Todavia, ainda outra vez se dirigiu ao pae Abrahão: «Eu te rogo