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O INFERNO

não apagará as chammas salutares que não corrigem os mortos, que pouco emendam os vivos, mas fazem tremer as freiras nas suas cellas e alegrar os santos no paraiso. Viva o inferno! Se se elle apagasse, haviamos de accendêl-o com os teus livros. Queremos o inferno e seus supplicios, embora lá vamos cahir com as nossas mães e com as creancinhas que riem no collo d'ellas. Sem inferno não ha fé, nem Egreja, nem religião, nem lei, nem familia, nem moralidade, não ha nada. Conservemos o inferno! É absurdo? mais um motivo. Crédo quia absurdum. Parece-te isto injusto, incredulo, impio, perverso que não queres acreditar que Deus creasse tantos entes fracos para perdel-os sem missão! Imprudente! que ousas escutar a tua consciencia, quando a tradição falla! Malvado! coração de pedra que não dás dinheiro ao Papa para lhe redourar a thiara e vais dal-o a pobres e proscriptos, e estás ahi a lastimar os billiões de creaturas que povoam o abysmo. Ó sandeu! Ó miseravel! Algum proveito colhes atacando verdades tão uteis. És como os malfeitores que quebram os lampeões. Se assim vais, arrasarás os carceres. É bem de vêr, lá tens as tuas razões para querer destruir o inferno; se fosses de melhor casta havias de crêr n'elle.