Página:O Momento Literario (1908).pdf/286

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reputações ilegítimas, tentativa que me valeu inimizades e rancores, alguns dos quais ainda hoje perduram. Insubmisso na adolescência, e iconoclasta no começo da minha carreira literária, anarquista insurrecional em 1905, ainda em luta no seio do próprio partido contra o dogmatismo e a intolerância de alguns doutrinários, tenho seguido a evolução natural do meu espírito e me desenvolvido segundo minha própria natureza. Escreveu alhures o mais velho dos Bosny, refutando a alguns críticos que diziam ter Jean Boule (personagem dos Maus Pastores, de Mirbeau) se tornado revolucionário à força de miséria, esta observação que me parece justa: "nasce-se revolucionário como se nasce romanesco ou sentimental e, quaisquer que sejam as circunstâncias felizes ou desgraçadas, fica-se tal qual a natureza nos criou." Bakunin, Blanqui, Rochefort, Kropotkin, Mirbeau e outros justificam a sutil observação de Bosny. Sou, pois, de instinto, um rebelde.

Como vistes, não citei nenhum escritor brasileiro entre os que mais influíram na minha formação literária e isto muito naturalmente, crede com sinceridade, porque não sofri a influência de nenhum deles. O intelecto brasileiro está muito baixo, não tendo ultrapassado ainda as raias da mediocridade, para influir em meu espírito. Os escritores antigos são de tendências tão anticivilizadoras, tão anti-humanitárias e tão antiprogressistas,