Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/91

Wikisource, a biblioteca livre

Envolvia-o nos braços robustos, olhava-o ternamente com dois grandes olhos negros. Captain Rytmel depois do primeiro instante de surpreza, em que se fez pallido, apressou-se a ir apertar a mão a uma senhora, extremamente bella, que estava sentada ao pé d’aquelle homem guloso e expansivo, o qual era um hispanhol, negociante de sedas, e se chamava D. Nicazio Puebla.

A senhora, que se chamava Carmen, era cubana, e segunda mulher de D. Nicazio; era alta, de fórmas magnificas, com uma carnação que fazia lembrar um marmore pallido, uns olhos pretos que pareciam setim negro coberto de agua, e cabellos annelados, abundantes, d’esses a que Beaudelaire chamava tenebrosos. Vestia de seda preta e com mantilha.

— Estavam em Gibraltar? perguntou Captain Rytmel.

— Em Cadix, meu caro, disse D. Nicazio. Viemos hontem. Vamos a Malta. Volta para a India? Ah! Captain Rytmel, que saudade de Calcuttá! Lembra-se hein?

— Captain Rytmel — disse sorrindo friamente Carmen — esquece depressa, e bem!

No emtanto nós olhámos curiosamente para Carmen Puebla. O conde achava-a sublime. Eu admirado tambem, disse á condessa:

— Que formosa creatura!

— Sim! Tem ares d’uma estatua malcreada, respondeu ella seccamente.

Olhei para a condessa, ri:

— Oh prima! É uma mulher adoravel, que devia ser em miniatura para se poder trazer nos berloques do relogio; uma mulher que de certo vou roubar, aqui no alto mar, n’um escaler; uma mulher cujos movimentos parecem musica condensada! Oh prima! confesse que é perfeita... Menino! accrescentei para o conde, passa-me depressa a soda, preciso calmantes...

No emtanto Captain Rytmel, sentado junto de Carmen, fallava da India, de velhos amigos de Calcuttá, de recordações de viagens. A condessa não comia, parecia nervosa.

— Vou para cima, disse ella de repente, mandem-me chá.

Quando a viu subir, Rytmel ergueu-se, perguntando ao conde:

— Está incommodada a condessa?

— Levemente. Precisa de ar. Vá-lhe fazer um pouco de companhia, falle-lhe da India. Eu, não posso deixar este carril...