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O reino de Kiato
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seria motivo para grandes comesainas e colossaes bebedeiras. A humanidade é a mesma em todas as latitudes: sem alcool não ha contentamento. Não se comprehende banquete sem o vinho de Champagne nem este sem o brinde da pragmatica, como preceitúa o protocollo da civilisação. Seria muito insulso, selvagem mesmo, sentarem-se á mesa algumas duzias de convivas para festejar um facto glorioso de sua patria, e levarem todo o tempo com os maxilares em movimento, triturando iguarias, engulindo-as até ficarem como ruminantes no periodo da segunda digestão.

O banquete da civilisação é uma pantomima, mas não ha somente a mastigação prosaica da besta; ha alguma cousa espiritual, embora burlesca. Começa o ridiculo pelo «menú», palavra exotica, importada da França, com umas tantas cousas que vão introduzindo e afrancesando as Americas.

Paterson philosophava:

— A França diz a meio mundo como deve vestir e o que deve ler. Dita-lhe o «menú», o protocollo das festas. O baptismo dos pratos é cousa divertida. Si é em terras em que a lingua que se fala é a portugueza, é uma algaravia insuportavel. Vêm «le petit pois, le foie gras, le dindon roti a Silva Gomes, la tainha escabeché, le bijupirá á bresilienne, goiabé»,

O «menú» e a sua escripta agradam aos futeis, que vão empanturrar-se naquelle repasto, fazer o chylo de giboia farta ouvindo os brindes da pragmatica, a rethorica encommendada. Se o banquete é politico, então, reveste-se de mais solemnidade, de mais etiqueta. E’ á noite, pela razão de todos os gatos serem pardos. Seria muito despudor afrontar o dia, quando se vai glorificar um nullo. Ao espoucar do champagne, phrase typica, ergue-se um dos con-