XXXI
A Iára
VAMOS á cachoeira onde mora a Iára, disse. Essa rainha das aguas costuma aparecer sobre as pedras nas noites de lua. E’ muito possivel que possamos surpreende-la a pentear os seus lindos cabelos verdes com o pente de ouro que usa.
— Dizem que é criatura muito perigosa, murmurou Pedrinho.
— Perigosissima, declarou o saci. Todo o cuidado é pouco. A beleza da Iára dói tanto na vista dos homens que os céga e os arrasta para o fundo d’agua. A Iára tem a mesma beleza venenosa das sereias. Você vai fazer tudo direitinho como eu mandar. Do contrario, era uma vez o neto de dona Benta!...
Pedrinho prometeu obedecer-lhe cegamente.
Andaram, andaram, andaram. Por fim chegaram a uma grande cachoeira cujo ruido já vinham ouvindo de longe.
— E’ ali, disse o perneta apontando. E’ ali que ela costuma vir pentear-se ao luar. Mas você não pode ve-la. Tem de ficar bem quietinho, escondido aqui atrás desta pedra e sem licença de espiar a Iára. Se não fizer assim, ha de arrepender-se amargamente. O menos que poderá acontecer é ficar cégo.