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Página:O Saci (8ª edição).pdf/24

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VI

A modorra



UM dia Pedrinho enganou dona Benta que ia visitar tio Barnabé, mas em vez disso tomou o rumo da mata virgem de seus sonhos. Nem o bodoque quis consigo. “Para que armas, se levo o saci na garrafa e ele é uma arma melhor do que quanto canhão ou metralhadora existe?”

Que beleza! Pedrinho nunca supôs que uma floresta virgem fosse tão imponente. Aquelas arvores enormes, velhissimas, barbadas de musgos e orquideas, com as raizes de fóra dando ideia de monstruosas sucuris; aqueles cipós torcidos de todos os jeitos, que passavam de uma arvore para outra como se fossem redes; aquela galharada, aquela folharada e sobretudo aquele ambiente de umidade e sombra, lhe causaram uma impressão que nunca mais se apagou.

Volta e meia ouvia um rumor estranho, de inambú ou jacú a esvoaçar por entre a folhagem, ou então de algum galho podre que tombava do alto e vinha num estardalhaço — brah, ah, ah... esborrachar-se no chão.

E quantas borboletas, das azues, como cauda de pavão; das cinzentas, como casca de pau; das amarelas, côr de gema de ovo!

E passaros! Ora um enorme tucano, de bico maior que o corpo e lindo papo amarelo. Ora um picapau, que interrompia o seu trabalho de bicar a madeira de uma arvore para atentar no menino com interrogativa curiosidade.