— Existe para quem vê, não nego, respondeu o saci.
Mas quem está nas unhas do medo vê coisas que ninguem mais vê. Porisso digo que esses monstros existem e não existem.
— Não entendo. Se existem, existem. Se não existem, não existem...
— Bobinho! Uma coisa só existe quando a gente acredita nela; e como uns acreditam e outros não acreditam, uma mesma coisa pode existir e não existir.
Aquela filosofia do saci começava a dar dor de cabeça no menino, que acabou dizendo.
— Chega. Não vim aqui para filosofar e sim para conhecer os segredos da floresta. Como ha muito medo no mundo, devem existir muitos filhos do medo que você ainda não me mostrou.
— Se ha! Os medrosos são os maiores criadores de coisas que existem. Não tem conta o que sai da imaginação deles. E nisso os antigos donos destas terras, os indios, e tambem os negros que vieram da Africa, foram mestres.
— Barnabé, por exemplo, disse Pedrinho. E´ um danado para saber coisas, com certeza, inventadas por ele mesmo. Mas conte algo do que os indios acreditam.
— Os indios, e depois os mestiços desses indios, criaram historias que não acabam mais. Conta-las todas seria impossivel. Vou apenas referir-me a algumas das suas crenças. Os indios eram filhos das selvas, e viviam em contacto direto com a natureza. Não usavam luz de noite nas choupanas, como vocês usam nas suas casas, e porisso tinham mais medo que os civilizados. Vou contar a historia do Cauré.