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Página:O Saci (8ª edição).pdf/72

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MONTEIRO LOBATO

é preciso que você coma estas sete frutinhas vermelhas, concluiu apresentando ao menino um punhado de frutinhas do tamanho de amoras bravas.

Pedrinho desconhecia essas frutas e foi com uma careta que mordeu a primeira, tão amarga era ela. Mas comeu as sete, e logo em seguida sentiu uma deliciosa tonteira invadir-lhe o corpo, deixando-o num exquisito estado de conciencia jamais sentido. Era como se estivesse dormindo acordado.

Enquanto isso, o saci repetiu em tom diferente o assobio com que chamara o serra-pau; mas dessa vez não veio serra-pau nenhum, sim uma enorme quantidade de vagalumes, dos grandes e dos pequenos. Vieram e foram pousando nas folhas e galhos das arvores vizinhas, como se algum invisivel guia lhes estivesse a indicar os lugares. O coração da floresta clareou num circulo de cem metros de diametro, como se fosse batido pelo luar da lua cheia.

Pedrinho estava a gozar o espetaculo da floresta iluminada pelas lanterninhas vivas, quando surgiu na clareira o primeiro saci. E logo outro, e outro, e todo um bando de mais de cem. Começaram a pular, a dansar e a conversar numa linguagem que o menino muito sentiu não entender.

— Estão combinando as travessuras que vão fazer durante a noite. Daqui a pouco todos partem, só ficando os pequeninos que ainda não podem correr mundo, explicou o saci, cochichando-lhe ao ouvido.

— Pedrinho enxergou um de cara chamuscada — com certeza o que fora vitima da explosão do pito do tio Barnabé. Mas os sacis foram se dispersando, de modo que ao cabo de alguns minutos só se viam por ali os pequeninos como camondongos.