XXV
A mula sem cabeça
A mula sem cabeça!
Pedrinho estremeceu. Nenhum duende das florestas o apavorava mais que esse estranho e incompreensivel monstro, a mula sem cabeça que vomita fogo pelas ventas! Muitas historias a seu respeito tinha ouvido aos caboclos do sertão e aos negros velhos, embora dona Benta vivesse dizendo que tudo não passava de crendice.
A galopada aproximava-se; já se ouvia o estalar dos arbustos que em seu desenfreado galopar a mula sem cabeça vinha quebrando. Subito, parou.
— Vai mudar de rumo! murmurou o saci com cara mais alegre.
E de fato foi assim. A mula retomou a galopada mas em outra direção, e embora passasse por perto não chegou ao alcance dos olhos do menino.
— Que pena! exclamou ele. Tanta vontade que eu tinha de conhecer esse monstro...
— Que pena? repetiu o saci. Que felicidade, deve você dizer! A mula sem cabeça é o mais sinistro duende que ha no mundo; tem o dom de transtornar a razão de todos que a vêm. Por isso é que tive medo — não por mim, mas por você...
— Mas qual é a origem dessa mula?