Página:O Tronco do Ipê (Volume II).djvu/189

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percebia-se nessa atmosfera doméstica a morna atonia, que prepara a tormenta. Entretanto nenhum dos habitantes da casa, se o interrogassem, poderia dizer o que sentia, pois de fato nada sentia ainda. O que lhes nublava o espírito era essa impressão fugitiva, espécie de reflexo de uma luz recôndita a refranger-se na consciência, mas de leve, tão sutil, como os fogos-fátuos que rajam as nuvens.

Em sua melancólica atenção não ouviu a menina os passos do pai que se aproximara. Um momento esteve o barão comovido a contemplar o belo semblante aljofrado pelo pranto.

— Como tu o amas, minha Alice! murmurou ele enternecido, passando o braço pela cintura da filha para estreitá-la ao peito.

A menina soltou um pequeno grito de susto, que sufocou reconhecendo quem lhe falava; e escondeu envergonhada o rosto escarlate no seio do pai.

— E aquele ingrato não vê estas lágrimas! continuou o barão com ternura. Mas eu te prometo que muito breve, hoje mesmo, ele virá pedir-te perdão.