Página:O abolicionismo (1883).djvu/202

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um escravo branco. Mesmo a população nacional tem que ser sujeita a um novo recrutamento agrícola,[1] para satisfazer diversos Clubs, e mais que tudo o câmbio, por uma falácia econômica, tem que ser conservado tão baixo quanto possível, para o café, que é pago em ouro, valer mais papel.

Também a horrível usura de que é vítima a lavoura em diversas províncias, sobretudo do norte, é a melhor prova do mau sistema que a escravidão fundou, e do qual duas características principais – a extravagância e o provisório – são incompatíveis com o crédito agrícola que ela reclama. “A taxa dos juros dos empréstimos à lavoura pelos seus correspondentes” é o extrato oficial das informações prestadas pelas presidências de província em 1874, “regula em algumas províncias de 7 a 12%; em outras sobe de 18 a 24%, e há exemplo de se cobrar a de 48 e 72% anualmente!”. Como não se pretende que a lavoura renda mais de 10%, e toda ela

  1. O Club da Lavoura e Comércio de Taubaté, por exemplo, incumbiu uma comissão de estudar a lei de locação de serviços, e o resultado desse estudo foi um projeto cujo primeiro artigo obrigava a contratos de serviços todo o nacional de doze anos para cima que fosse encontrado sem ocupação honesta. Esse nacional teria a escolha de ser recrutado para o exército, ou de contratar seus serviços com algum lavrador de sua aceitação. O art.  dispunha: “O locador que bem cumprir seu contrato durante os cinco anos terá direito, afinal, a um prêmio pecuniário que não excederá de 500$000. § 1º. Este prêmio será pago pelo governo em dinheiro ou em apólice da dívida pública”. A escravidão tem engendrado tanta extravagância que não sei dizer se essa é a maior de todas. Mas assim como Valença se obstina em ser a Esparta, a Corte a Delos, a Bahia a Corinto, dir-se-á, à vista desse prêmio de 500$, que se quer fazer de Taubaté, que J. M. de Macedo nos descreve como “antiga, histórica e orgulhosa do seu passado”, a Beócia da escravidão.