mais do que isso, das honras oficiais e do bem-estar, não consente esses rasgos de heroísmo religioso, hoje próprios tão somente de um faquir do Himalaia, apesar desse resfriamento glacial de uma parte da alma outrora incandescente, a escravidão e o Evangelho deviam mesmo hoje ter vergonha de se encontrarem na casa de Jesus e de terem o mesmo sacerdócio.
Nem quanto aos casamentos dos escravos, nem por sua educação moral tem a Igreja feito coisa alguma. Os monges de S. Bento forraram os seus escravos e isso produziu entre os panegiristas dos conventos uma explosão de entusiasmo. Quando mosteiros possuem rebanhos humanos, quem conhece a história das fundações monásticas, os votos dos noviços, o desinteresse das suas aspirações, a sua abnegação pelo mundo, só pode admirar-se de que esperem reconhecimento e gratidão por terem deixado de tratar homens como animais e de explorar mulheres como máquinas de produção.
Se em relação às pessoas livres mesmo [oficiou em 1864 ao governo o cura da freguesia do Sacramento da Corte] se observa o abandono, a indiferença atinge o escândalo em relação aos escravos. Poucos senhores cuidam em proporcionar aos seus escravos em vida os socorros espirituais; raros são aqueles que cumprem o caridoso dever de lhes dar os derradeiros sufrágios da Igreja.[1]
- ↑ Consultas do Conselho de Estado sobre Negócios Eclesiásticos. Consulta de 18 junho de 1864.