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Página:O bobo (1910).djvu/105

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Veremudo Peres, irmão do conde de Trava, genro da rainha, e senhor de Viseu, que viera assistir àquela espécie de parlamento, tomando a mão, invectivara furioso contra o infante, seu cunhado, e não poupara feros e ameaças contra os parciais dele. A cólera do Lidador não precisava de tanto para ser excitada, e palavras igualmente violentas saíram da sua boca em resposta às de Veremudo Peres. Acusou o conde de vexames de todo o género e ameaçou também aqueles que o ameaçavam. Pouco a pouco o tumulto, começado pelos dois, dilatou-se e cresceu. As injúrias voaram de parte a parte, os ferros polidos dos punhais principiaram a reluzir meio arrancados dos cintos, e a sala do conselho ia converter-se num campo de batalha, quando dois homens, talvez os únicos que pelo seu carácter público e ainda mais pela sua condição moral o podiam alcançar, atalharam as cenas de sangue de que os paços de Guimarães estavam a ponto de serem teatro. Quase ao mesmo tempo dois sacerdotes se alevantaram a pedir tréguas em nome de Deus. Era D. Telo, arcediago de Coimbra, um deles; o outro, Fr. Hilarião, o bom velho abade do Mosteiro de D. Muma, que já o leitor conhece. Àquele dissera muitas vezes D. Teresa que assaz