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Página:O bobo (1910).djvu/122

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tagantes ou tiras de couro cru com que se castigavam os homens de criação, e que ele nunca provara. Posto que já com voz trémula, tentou ainda uma bufonaria, e atirando ao chão aquele seu vulto de pipa pôs-se a gritar:

— Não, que eu não vou!

— Donzéis, obedecei! - bradou o conde, encaminhando-se para os aposentos da infanta.

Dom Bibas desenganou-se então de que o caso era sério. Dando largas ao temor, arrastou-se após Fernando Peres, exclamando com todos os sinais de viva aflição:

— Piedade, senhor conde! Prometo...

O conde desaparecera.

— Levai-o, donzéis! - disse o novo alferes-mor.

— Também vós, Garcia Bermudes? Não! não! vós salvar-me-eis destes...

Garcia saíra pela porta fatal do corredor escuro, que fora a perdição do bobo. Só ficara ali o cónego de Lamego, que parecia observar como os donzéis executavam as ordens do conde.

Estes, de feito, tinham posto mãos violentas no roliço vulto do respeitável Dom Bibas e, travando-lhe cada qual do seu braço, se assemelhavam a dois mastins pouco dispostos a largar a preia. O bufão com voz truncada de