Página:O bobo (1910).djvu/126

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buscava, se não fora o grande capuz do zorame, onde tinha como sumido o rosto, do qual apenas eram bem visíveis dois olhos brilhantes e uma espessa barba loura. Quase ao mesmo tempo os dois haviam chegado ao pé do desconhecido, e lhe tinham perguntado de onde vinha e quem o mandava. A resposta do peão foi tirar um pequeno rolo de pergaminho, atado com fio negro, de uma bolsa de couro que trazia pendente do cinto, e pô-lo nas mãos de Gonçalo Mendes.

O Lidador recebeu a carta e perguntou de novo:

— Mas quem te mandou, peão?

— Um cavaleiro português - respondeu o desconhecido - que encontrei mui malferido na albergaria dos hospitalários em Gaza. O triste e cativo quase que se morria.

Estas palavras excitaram ao mesmo tempo curiosidade e receios no espírito de Gonçalo Mendes; e quebrando rapidamente o fio negro entregou a carta a Fr. Hilarião, dizendo-lhe:

— Como a vós vem também a mensagem, lereis esses riscos pretos que aí estão. Por minha boa espada! cousa é que nunca entendi.

Não era raridade: quase toda a fidalguia de então se podia gabar de outro tanto.

Fr. Hilarião desenrolou o pequeno pergaminho