Página:O bobo (1910).djvu/139

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jardim, rompendo a custo as vivas cores das vidraças, vinha morrer nas trevas a pouca distância delas. O cavaleiro, ao atravessar o terreirinho, parara um momento e cravara os olhos naquela ténue claridade. Um suspiro mal contido lhe sussurrou nos lábios. Depois, como arrastado por um pensamento irresistível, continuou a caminhar rápido para o escuro vão junto da torre, e envolto no zorame coseu-se com a parede, como quem receava ser ali visto.

Não tardou que do lado da corredoura, oposto àquele por onde o cavaleiro viera, se aproximasse um vulto trazendo um cavalo de rédea. Este vulto vinha também coberto de uma espécie de zorame, porém alvacento como albornoz mourisco. Deu um silvo agudo, a cujo soído Egas pareceu reconhecê-lo, porque, saindo-lhe ao encontro, perguntou em voz baixa e em árabe:

— És tu, Abul-Hassan?

— É o vosso servo - respondeu o vulto na mesma língua, parando e sofreando o cavalo.

— Falaste com teu irmão? A que horas se erguem as pontes das barbacãs? - perguntou de novo o cavaleiro.

— Apenas acabar o banquete - tornou o mouro. - Os vigias receberam ordem para não