de Dulce. Por este modo era que ele se achava ali.
A recordação dessa época em que naquele mesmo sítio passara horas deliciosas aos pés da sua amante, que então inocente e pura era para ele como o anjo de Deus, que inspirava ao cavaleiro esforço e generosidade, e ao trovador os seus mais poéticos e harmónicos cantares [1]; essa recordação, dizemos, devorava agora como um pensamento infernal o coração do pobre mancebo. Os riscos que naquele tempo dourado correra para ouvir promessas e juramentos de amor, palavras de esperança e de felicidade, ia-os correr de novo para receber talvez o último desengano. Que lhe importava? Sem ao menos ver uma vez Dulce é que ele não podia morrer. Morrer - que, traído, lhe seria a consolação derradeira!
Egas se havia dirigido ao mesmo lugar onde poucas horas antes o conde de Trava ouvira da boca de Garcia Bermudes as desagradáveis novas da aproximação do infante. O reflexo do tanque em que as estrelas se espelhavam
- ↑ Cantares é o nome que o auctor ou actores do Cancioneiro chamado do Collegio dos Nobres dâo a cada um dos poemetos ou cantigas de que elle se compõe.