Página:O bobo (1910).djvu/159

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para onde é que vós ides?" O romeiro é livre como a ave do céu: respeitam-no o besteiro e o homem de armas; dá-lhe abrigo o vilão sob o seu colmo, o abade no seu mosteiro, o nobre no seu castelo. Quando ouvires cantar lá em baixo junto à torre aquela trova que eu fiz ao despedir-me de ti:

 
Vai-se o vulto do meu corpo
Mas eu não;
Que a teus pés cá fica morto
O coração;

Serei eu que virei arrancar-te destes odiosos paços; e então serás minha, minha para sempre!

— Mas se te descobrirem?... Oh, que é uma ideia terrível... Neste momento um silvo agudo soou da corredoura contígua ao jardim.

— É Abul-Hassan que me faz sinal - disse o cavaleiro estremecendo. - Devo deixar-te, minha Dulce.

— Já!? - murmurou a donzela.

— Sim - replicou Egas -, para poder sair ainda hoje de Guimarães. Sem isso a tua partida fora amanhã impossível.

Um véu de melancolia cobriu o coração de