Página:O bobo (1910).djvu/20

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ou incompletas. O conde ou rico homem de Oviedo ou de Leão, da Estremadura ou de Galiza, de Castela ou de Portugal referia sempre a si, às suas ambições, esperanças ou temores os resultados prováveis de qualquer sucesso político, e aferindo tudo por esse padrão procedia em conformidade com ele. Nem podia ser de outro modo. A ideia de nação e de pátria não existia para os homens de então do mesmo modo que existe para nós. O amor cioso da própria autonomia que deriva de uma concepção forte, clara, consciente, do ente colectivo, era apenas, se era, um sentimento frouxo e confuso para os homens dos séculos XI e XII. Nem nas crónicas, nem nas lendas, nem nos diplomas se encontra um vocábulo que represente o Espanhol, o indivíduo da raça godo-romana distinto do Sarraceno ou Mouro. Acha-se o Asturiano, o Cantabro, o Galiciano, o Portugalense, o Castelhano, isto é, o homem da província ou grande condado; e ainda o Toledano, o Barcelonês, o Compostelano, o Legionense, isto é, o homem de certa cidade. O que falta é a designação simples, precisa, do súbdito da coroa de Oviedo, Leão e Castela. E porque falta? É porque em rigor a entidade faltava socialmente. Havia-a, mas debaixo de outro