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Página:O bobo (1910).djvu/214

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O Lidador ficou por algum tempo em silêncio, e por fim exclam ou:

— Mas quem há de salvar os meus bons e leais cavaleiros, que me aguardam?

— Eu - acudiu o bobo. - As portas do castelo ficam abertas, porque os vigias e roldas correm pelas barbacãs. Saí vós outros, e esperai-os à boca do subterrâneo. Dentro de poucas horas todos estarão convosco. Basta que me deis um sinal com que eu possa fazer que eles me obedeçam.

O Lidador pareceu assentir à proposição de Dom Bibas; porque, tirando da escarcela uma tabuazinha coberta de cera, com um anel que tinha no dedo estampou nela o seu selo de camafeu e, entregando-a ao bobo, lhe disse:

— Vai, apresenta isto ao meu vílico, e serás obedecido em tudo.

— Falta ainda uma cousa! - continuou Dom Bibas. - Reverendo abade, vesti esse trajo de escudeiro que aí vedes e deixai-me vossa cogula. Não sei o que me diz o coração... Talvez me seja necessária. Será esta a primeira recompensa do serviço que ora vos faço.

Fr. Hilarião hesitou; mas o terror das ameaças que o truão ouvira ao conde só lhe dava lugar a uma ideia: a de sair de Guima-

rães sem risco. Depois de cinquenta anos de vida monástica,