Página:O bobo (1910).djvu/257

Wikisource, a biblioteca livre

Dulce conservava-se ainda no mesmo lugar e na mesma postura. Fernando Peres achava-se já ao pé dela havia alguns instantes, quando esta, alevantando os olhos, encontrou os do conde, que em silêncio a contemplava com ar risonho. A pobre donzela estremeceu: a saudade que tinha na mão caiu-lhe em terra. Mal pensava a desgraçada que assim devia em breve cair para sempre a sua última esperança de felicidade!

Dulce ergueu-se e ia partir; mas o conde a reteve e, fazendo-a de novo assentar, disse-lhe com brandura:

— Foges de mim, donzela? À fé que não to mereço eu. Vinha buscar-te para me queixar de me teres escondido um segredo, cuja revelação te houvera poupado amarguras e a mim um procedimento involuntariamente cruel. Quis ainda há pouco constranger-te a dares a mão de esposa ao nobre Garcia Bermudes, porque ignorava que amavas um cavaleiro que foi meu inimigo, mas que já o não é. Cria que o teu refusar nascia de um capricho infantil; não de um amor ardente. Agora sei tudo. Egas Moniz, o nobre trovador que há três anos deixou a terra em que tu respiravas para ir colher louros santos junto ao sepulcro de Cristo, voltou a Portugal - e hoje