Era tarde. Portugal não devia tornar a ser uma província leonesa.
Se D. Teresa se mostrara na viuvez digna politicamente do marido, o filho era digno de ambos. O tempo provou que os excedia em perseverança e audácia. Anatureza dera-lhe as formas atléticas e o valor indomável de um desses heróis dos antigos romances de cavalaria, cujos dotes extraordinários os trovadores exageravam mais ou menos nas lendas e poemas, mas que eram copiados da existência real. Tal fora o Cid. Os amores adúlteros de D. Teresa com o conde de Trava, Fernando Peres, fizeram com que cedo se manifestassem as aspirações do moço Afonso Henriques. Os barões da província que tendia a constituir-se em novo estado achavam naturalmente nele o centro da resistência à preponderância de um homem que deviam considerar como intruso, e a quem a cegueira da infanta-rainha cedia o poder que dantes tão energicamente exercera. À irritação e inveja que a elevação desse estranho devia despertar no coração de cada um deles, ajuntava-se decerto a consideração das conseqüências inevitáveis da ilimitada preponderância do conde. Fernando Peres pertencia a uma das mais poderosas famílias da Galiza