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Página:O bobo (1910).djvu/270

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De um pilar grosseiramente afeiçoado, que sustinha ao meio da quadra o fecho da abóbada, saíam alguns grilhões ferrugentos, chumbados na pedra. Estes grilhões eram, como uma sangria em caso de apoplexia fulminante o é na medicina, um luxo de ciência de carcereiro, ou antes um pleonasmo mais intolerável que todos aqueles que costumam votar à execração pública os gramáticos e retóricos. Cadeias em tão seguro cárcere eram absolutamente inúteis, e de feito bem se mostrava que ali tinham sido postas como simples adereço e casquilharia de terror.

Um largo poial encostado ao pilar e coberto de uma pouca de palha meia podre formava, com os instrumentos de martírio, todo o adorno da masmorra. Deviam contentar-se desse escabelo para se assentarem, desse leito para dormirem, os habitantes desta melancólica morada. E com razão: onde o exercício dos membros só podia ser feito nas dores e angústias dos tratos, era leito de repouso a lajem fria do poial, e a palha já fétida, que o cobria, fofo almadraque de penas.

Um cavaleiro, cuja qualidade se conhecia pelas esporas douradas, que ainda conservava afiveladas