Saltar para o conteúdo

Página:O bobo (1910).djvu/281

Wikisource, a biblioteca livre

pareciam vacilar descendo àquela espécie de voragem. Cingia-lhe a cabeça uma grinalda de flores e trajava as galas todas de uma noite de sarau; mas as suas faces eram pálidas como as da virgem morta que, também engrinaldada a fronte, deitam no seu ataúde.

Já tinha dado alguns passos na vasta quadra, quando o trovador, cujo olhar fora atraído pelo clarão da tocha, bradou com um grito de alegria e pasmo impossível de descrever:

— Dulce!

Era ela de feito.

O prisioneiro correu para a donzela e exclamou com voz afogada:

— Oh minha Dulce!... Deus ouviu-me... quis que ainda uma vez te visse na Terra... quis suavizar-me este longo morrer!

— Não morrerás! - interrompeu Dulce. - Estás livre! O infante avizinha-se: cavaleiros, besteiros e peões cobrem os andaimos das barbacãs; e a rainha quer salvar-te. A porta oculta deste horrível cárcere está para ti aberta. As minhas lágrimas obtiveram dela a chave, que morrendo lhe entregou o conde D. Henrique. Só de mim ela fiara o segredo de que existia este caminho secreto. Fernando Peres o ignora. Ele já saiu para o burgo, e