Página:O bobo (1910).djvu/283

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que partas!... Um instante pode perder-nos.

— Partirei, e já - acudiu o cavaleiro dando alguns passos e fitando os olhos em Dulce, que se assemelhava a uma estátua de mármore -, mas tu partirás comigo, porque eu jurei salvar-te, e tu juraste seguir-me.

— Tem piedade de mim, Egas! - murmurou a donzela erguendo as mãos.

— Vem! - foi a resposta que ele proferiu com o tom de uma resolução inabalável, segurando o braço de Dulce e pondo o pé no primeiro degrau da escada secreta.

De repente a palidez da donzela converteu-se em vivo rubor. A timidez desapareceu dos seus olhos, que brilharam febris, e, soltando-se da mão de Egas, lhe disse em tom dolorosamente severo:

— Afasta-te! Vedado te é o tocar-me.

O cavaleiro recuou espantado, cruzou os braços, e contemplou-a por alguns instantes em silêncio.

— Entendo-te! - exclamou ele com um acento em que se misturavam mil afectos opostos. - Não queres pôr à prova a lealdade de um homem que tudo arriscou por ti, que por ti só vivia, que por ti ia morrer em suplício infame!... Que era, pois, o teu amor, donzela?