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Página:O bobo (1910).djvu/308

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Passou uma hora. A noite tinha descido. A luz variegada das vidraças não se repintava já nas alvas lajens do pavimento. Fr. Hilarião, acabadas as orações, chamara para junto de si os monges, a quem ordenou o que quer que fosse. Alguns saíram mas não tardaram a voltar, os outros tornaram aos seus estalos ou sedes, onde assentados cabisbaixos e de braços cruzados pareciam, no volver de quando em quando a cabeça para o cruzeiro, esperar algum acontecimento extraordinário.

No âmbito da igreja silenciosa ouvia-se apenas o respirar constrangido e violento do recém-vindo, e às vezes o crepitar das tochas que ardiam ao redor da tumba.

Este silêncio, porém, quebrou-o um tropear lento de cavalos soando do lado da galilé ou alpendrada que rodeava exteriormente o edifício, e que segundo o costume da época servia de cemitério ao mosteiro. O ruído aproximava-se cada vez mais, até que finalmente parou junto das portas abertas ainda de par em par.

Uma dona com a cabeça coberta de um véu branco, seguida de um pajem que trajava as cores do alferes-mor Garcia Bermudes, entrou, e chegando ao meio da nave principal correu com os olhos aquelas arcarias: a igreja parecia