Fosse quem fosse o cavaleiro, o conde rodeou com ele os valos e, passando perto outra vez do castelo, os dois se embrenharam numa selva profunda, que se estendia a pouca distância deste para a parte do norte.
O cavaleiro era de feito o valido de Fernando Peres. A amizade dos dois se travara e crescera na Palestina. Garcia salvara o conde em certo recontro no qual o filho de Pedro Froilaz, a pé e coberto de feridas, mal se defendia já com um troço de espada partida, da multidão dos sarracenos, que o cercavam. Desde então, companheiros de perigos e deleites, nunca mais se haviam separado. Era uma destas fraternidades de armas de que os tempos bárbaros nos oferecem tantos exemplos, porque ainda então existia a individualidade do homem de guerra, hoje completamente anulada pelo valor fictício a que chamamos disciplina.
Ao passar pelo burgo, o conde avistara o cavaleiro, de cujos olhos também fugira nessa noite o sono, posto que por bem diverso motivo. Pela primeira vez Fernando Peres de Trava desejou esconder ao seu amigo os pensamentos que lhe vagueavam no espírito. Todos eles se resolviam num sentimento único - o temor. Envergonhava-se de si mesmo, e não